A Disputa dos Antigos e dos Modernos

Charles Perrault , desencadeador da querela entre Antigos e Modernos

A Querelle des Anciens et des Modernes (Disputa dos Antigos e dos Modernos) foi uma disputa intelectual ocorrida principalmente na França e na Inglaterra durante os séculos XVII e XVIII. Essa controvérsia questionou se a arte e a literatura contemporâneas (os “modernos”) poderiam e deveriam superar as realizações dos autores clássicos da Grécia e Roma antigas (os “antigos”). O debate não se limitava apenas à literatura, mas se estendia a todas as artes e ciências.

Contexto Histórico

Em 27 de janeiro de 1687, Charles Perrault iniciou uma polêmica ao responder ao abade de Lavau. O abade havia lido o discurso de La Fontaine intitulado “Sobre a vantagem que os Antigos superam os Modernos” durante uma reunião da Academia Francesa no Louvre. Em sua resposta, Perrault apresentou seu poema intitulado “Le Siècle de Louis le Grand”, no qual exalta o reinado de Luís XIV como um período ideal, ao mesmo tempo em que contesta o papel exemplar da Antiguidade. Perrault foi apoiado por Bernard le Bovier de Fontenelle, um importante autor e filósofo da época. Por outro lado, Nicolas Boileau-Despréaux, poeta e crítico francês, defendia apaixonadamente os “Antigos”. Ele argumentava que os autores e artistas clássicos tinham atingido uma perfeição que os modernos nunca poderiam igualar.

A Escolha de Hércules, uma pintura de Annibale Carracci.

O ensaio de Perrault foi recebido com muita controvérsia. Muitas pessoas, incluindo as principais figuras literárias francesas da época, como Boileau e Racine, argumentaram que os antigos eram superiores aos modernos. Eles argumentaram que os antigos tinham uma compreensão mais profunda da natureza humana e que suas obras eram mais atemporais e universais.

O debate durou vários anos e acabou levando ao desenvolvimento de duas escolas de pensamento distintas na literatura francesa: os antigos e os modernos. Os antigos acreditavam que a literatura e a arte dos antigos eram superiores às dos modernos, enquanto os modernos acreditavam que os modernos eram superiores aos antigos.

A Querelle des Anciens et des Modernes teve um impacto profundo na literatura e na arte francesas. Ajudou a inaugurar uma nova era de criatividade e inovação, e levou ao desenvolvimento de novos gêneros e estilos de escrita. O debate também ajudou a aumentar a conscientização da importância do progresso cultural e da necessidade de reavaliar constantemente o passado.

Luís XIV

O Debate na Inglaterra e na Alemanha

Na Inglaterra, a disputa assumiu um caráter um tanto diferente, com alguns dos envolvidos tomando posições menos absolutas. Por exemplo, Jonathan Swift em seu “A Tale of a Tub” (Uma história de uma banheira) e “The Battle of the Books” (A batalha dos livros), satiriza ambos os lados da controvérsia, mas parece favorecer os “Antigos”.

Na Alemanha, a disputa foi mais centrada em questões de estética e filosofia. Figuras importantes incluem Johann Christoph Gottsched, que estava do lado dos “Modernos”, e Johann Joachim Winckelmann, que defendia a imitação da arte e da literatura gregas.

Impacto e Resonâncias Futuras

O Querelle des Anciens et des Modernes também teve um impacto profundo no desenvolvimento da literatura e da arte na Europa como um todo. Ele ajudou a moldar não apenas a estética do final do século XVII e XVIII, mas também influenciou debates futuros sobre o valor relativo do clássico versus o moderno, incluindo o surgimento do movimento romântico no século XIX.

No século XX, o Querelle encontrou ressonância em debates sobre o papel da tradição versus inovação na cultura contemporânea e a tensão entre o humanismo clássico e as demandas da modernidade.

Em resumo, a Querelle des Anciens et des Modernes foi um marco no pensamento ocidental, moldando debates sobre o valor e a relevância da tradição e do clássico versus o moderno, que persistem até hoje.

Boileau par Jean-Baptiste Santerre (1678).

Aqui estão algumas das figuras-chave envolvidas na Querelle des Anciens et des Modernes:

  • Charles Perrault (1628-1703): Um escritor e poeta francês mais conhecido por seus contos de fadas, como “Cinderela” e “A Bela Adormecida”. Perrault foi uma figura de destaque no movimento dos modernos e seu ensaio “Le Siècle de Louis le Grand” foi uma das obras mais influentes do debate.
  • Boileau (1636-1711): Um poeta e crítico francês mais conhecido por seus poemas satíricos, como “A Arte da Poesia”. Boileau foi uma figura de destaque no movimento dos antigos e foi um crítico vocal de Perrault e dos modernos.
  • Racine (1639-1699): Um dramaturgo francês mais conhecido por suas tragédias, como “Fedra” e “Britânico”. Racine foi uma figura de destaque no movimento dos antigos e foi um crítico vocal de Perrault e dos modernos.
  • Voltaire (1694-1778): Um escritor e filósofo do Iluminismo francês mais conhecido por seus romances “Cândido” e “Zadig”. Voltaire era um apoiador dos modernos e escreveu vários ensaios em defesa do movimento dos modernos.

Depois de ler sobre a Querelle des Anciens et des Modernes, qual é a sua opinião sobre o assunto? Você se identifica mais com a perspectiva dos “Antigos”, valorizando a tradição e os clássicos, ou com a dos “Modernos”, enfatizando a inovação e o progresso? Como você vê essa discussão no contexto atual de arte e literatura? Adoraríamos ler seus pensamentos e opiniões nos comentários abaixo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *