Geoffrey Chaucer

Geoffrey Chaucer, uma figura icônica na literatura inglesa, emergiu durante um período formidável em que a literatura inglesa estava começando a ganhar forma e identidade. Nascido por volta de 1342/43 na Inglaterra, Chaucer é conhecido como o “Pai da Literatura Inglesa”. Este título não foi conquistado sem méritos. As obras de Chaucer, que abrangem tanto a poesia quanto a prosa, são notáveis por seu dinamismo, variando de conteúdos humorísticos a científicos. 

Em sua época, o latim e o francês eram as línguas dominantes na literatura e no ensino, mas Chaucer, com sua audácia e habilidade literária, conseguiu elevar o inglês médio a um patamar literário relevante. Dentre suas contribuições inestimáveis, destacam-se “O Livro da Duquesa” e “Os Contos de Canterbury”.  “Os Contos de Canterbury”, talvez sua obra mais célebre, é uma coleção de 24 histórias. O livro retrata um grupo de peregrinos em sua viagem à cidade de Canterbury, e cada um deles conta uma história. Estas narrativas se destacam pela diversidade de estilos e gêneros, fornecendo assim um retrato multiforme e abrangente da sociedade inglesa da época.

Antes mesmo de completar seus 20 anos, Geoffrey Chaucer teve uma experiência excepcionalmente intensa que marcaria o início de sua vida adulta – ele foi capturado e posteriormente resgatado por uma soma de £16. Em 1359, Chaucer se viu no epicentro de um dos conflitos mais significativos de sua época. Ele se alistou na campanha de Reims, uma audaciosa ofensiva militar liderada pelo Rei Edward III da Inglaterra, cujo objetivo era anexar por força determinadas regiões do território francês. Nessa época, Chaucer não era apenas um jovem súdito real, mas um membro respeitado da corte da Condessa de Ulster. Ele ocupava a posição de escudeiro, um prestigioso posto geralmente reservado para a nobreza.

No entanto, a guerra é uma mestra brutal e imprevisível. Durante o tumulto do conflito, Chaucer foi capturado pelas forças francesas. Após um período de incerteza que seguiu o cerco, durante o qual negociações tensas para o resgate de prisioneiros ocorreram entre as partes francesa e inglesa, Edward decidiu intervir. Demonstrando o valor que atribuía ao jovem Chaucer, o rei pagou uma soma considerável de £16 para garantir seu resgate – uma quantia que, ajustada à inflação moderna, seria equivalente a aproximadamente £8000, ou quase $10,000.

Conhecido como o “Pai da Poesia Inglesa”, Geoffrey Chaucer deixou uma marca indelével na literatura que ainda hoje reverbera. Embora muitos possam pensar imediatamente em Shakespeare ao discutir a poesia inglesa, é importante lembrar que, duzentos anos antes, no final do século XIV, era Chaucer quem reinava supremo. Em contraste com muitos de seus contemporâneos, como o amigo John Gower, que escreviam tanto em inglês quanto em latim e francês, Chaucer dedicou-se exclusivamente à língua inglesa. O renomado estudioso medieval Simon Horobin destaca o papel de Chaucer em promover o vernáculo, desviando-se do latim, a língua de comunicação internacional da época. Horobin argumenta que o compromisso de Chaucer com o inglês era um sinal do aumento do reconhecimento da língua como a “língua-mãe” da Inglaterra.

Mas qual era essa língua que Chaucer escrevia tão apaixonadamente? Aqui entra outra surpresa para muitos: Chaucer escreveu em inglês médio, um precursor do inglês moderno precoce que Shakespeare viria a empregar nos séculos XVI e XVII. Esta forma de inglês emergiu após William, o Conquistador, ter invadido a Inglaterra a partir da Normandia em 1066, suplantando o inglês antigo ou anglo-saxão. A língua que Chaucer herdou, falou e escreveu foi, como resultado da Conquista Normanda, fortemente influenciada pelo francês, que se misturou com o anglo-saxão germânico anteriormente falado na Inglaterra. A marca do inglês médio é evidente na obra mais conhecida de Chaucer, “Os Contos de Canterbury”, uma coleção de histórias contadas por um grupo de peregrinos a caminho da Catedral de Canterbury. As primeiras linhas, “Whan that Aprill with his shoures soote / The droghte of March hath perced to the roote” (“Quando Abril com suas doces chuvas / perfurou a seca de Março até a raiz”), podem parecer estranhas para os leitores modernos, mas são um testemunho eloquente do vernáculo da época.

Apesar da idade, as obras de Chaucer mantêm um frescor e vivacidade, muitas vezes impulsionadas por seu aguçado senso de humor. Histórias como “O Conto do Moleiro”, por exemplo, são salpicadas de situações hilárias e até indecorosas. Chaucer também tinha uma inclinação para a auto-paródia, como demonstrado em “Os Contos de Canterbury”. Aqui, ele se insere como um personagem incapaz de contar uma história convincente, uma piada irônica que não passa despercebida.

No final de sua vida, Chaucer teve o privilégio de morar na Abadia de Westminster, graças a uma pensão concedida pelo Rei Richard II. Foi aqui que ele foi enterrado, e mais tarde, em 1556, seu corpo foi transferido para um túmulo de mármore no transepto sul da Abadia. Esta homenagem póstuma não passou despercebida. Edmund Spenser, poeta do século XVI e admirador de Chaucer, solicitou ser enterrado ao lado dele. Este ato de homenagem marcou o início de uma tradição que deu origem ao “Canto dos Poetas”, um local da Abadia onde agora jazem muitos dos maiores escritores da Inglaterra. Tal é a influência do “Canto dos Poetas” que foi até mesmo replicada do outro lado do Atlântico, na Catedral de St. John the Divine, em Manhattan, onde um espaço semelhante foi dedicado a homenagear os autores americanos.

E assim, percorremos a fascinante vida e obra de Geoffrey Chaucer, o Pai da Poesia Inglesa. Sua influência foi sentida ao longo de séculos e suas histórias ainda ressoam em nossos corações. Mas nos perguntamos, há alguma obra específica de Chaucer que você gostaria de ver traduzida e republicada aqui no Brasil?

Com seu talento em prosa e poesia, temos certeza de que há muitas opções para escolher. Talvez você esteja ansiando por ler as histórias humorísticas e salientes de “Os Contos de Canterbury” em uma nova tradução, ou talvez haja outra obra que chame sua atenção.

Queremos saber sua opinião! Você prefere ver um trabalho de prosa ou poesia? Há um texto específico de Chaucer que você gostaria de ver em português?

Compartilhe suas opiniões e sugestões nos comentários abaixo. Sua contribuição pode ser a chave para trazer a genialidade de Chaucer para mais leitores brasileiros. Estamos ansiosos para ouvir suas ideias!

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