O Mabinogion: Janela para o Mundo Medieval Galês

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O Mabinogion: Janela para o Mundo Medieval Galês

O Mabinogion é uma das joias literárias mais importantes do País de Gales e uma fonte crucial para entender a mitologia celta, a história medieval galesa e a literatura europeia. Este compêndio de contos medievais não só preserva a riqueza da narrativa oral galesa como também oferece um vislumbre das crenças, dos valores e da estrutura social da época.

Aqueles interessados em mitologia celta, historiadores da nação galesa e estudantes da tradição arturiana, em algum momento, se encontrarão direcionados a uma coleção de prosa em galês médio conhecida pelo nome curioso de Mabinogion (pronunciado Mabin-OGion). Compilada a partir de textos encontrados em dois manuscritos medievais tardios – o Livro Vermelho de Hergest e o Livro Branco de Rhydderch – essa coleção foi inicialmente editada e traduzida pelos antiquários William Pughe e Lady Charlotte Guest no início do século XIX.

Guest e Pughe aplicaram o termo ‘Mabinogion‘ (baseado em um plural espúrio de mabinogi) à sua compilação traduzida. Embora a coleção Mabinogion possa, portanto, ser considerada uma criação editorial do século XIX, seus textos constituintes são produções medievais autênticas, derivadas de originais compostos entre os séculos XI e XIV. Eles representam uma era de ouro da prosa narrativa que floresceu no País de Gales ao longo da Idade Média central. Esta cultura literária distinta e em evolução forma o contexto do Mabinogion.

Origens e Composição

O termo “Mabinogion” foi cunhado no século XIX e é derivado do galês “mabinogi”, que se refere aos primeiros quatro contos do compêndio, conhecidos como os “Quatro Ramos do Mabinogi”. Esses contos focam nas aventuras de personagens míticos como Pwyll, Branwen, Manawydan e Math. Além dos quatro ramos, o Mabinogion inclui romances arturianos, como “O Sonho de Rhonabwy”, “Owen e Lunet” e “Gereint e Enid”, além de histórias independentes como “O Sonho de Macsen Wledig” e “A História de Taliesin”.

Onze contos separados são normalmente incluídos no corpus do Mabinogion. Dentro destes, como mencionado, dois subgrupos – ‘os Quatro Ramos do Mabinogi‘ e os ‘Três Romances‘ – são tradicionalmente reconhecidos. Em ordem cronológica, os textos são os seguintes:

Culhwch e Olwen (c.1100)
Os Quatro Ramos do Mabinogi (c.1190)
Pwyll, Príncipe de Dyfed
Branwen, Filha de Llyr
Manawydan, Filho de Llyr
Math, Filho de Mathonwy
Lludd e Llyfelys (c.1200-1250)
Os Três Romances (c.1200-1250)
A Dama da Fonte
Peredur, filho de Efrawg
Geraint, filho de Erbin
O Sonho de Macsen Wledig (c.1200-1250)
O Sonho de Rhonabwy (c. 1300-1350)

Temas e Características

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Os textos do Mabinogion lidam com a era heroica ou o passado mitológico das Ilhas Britânicas. Eles não eram composições originais, já que se baseavam em material tradicional pré-existente, seja de fontes orais ou escritas. Mas essas tradições foram reestruturadas, muitas vezes para refletir preocupações contemporâneas. Podemos ler o Mabinogion tanto como uma interpretação de um passado mitológico quanto um comentário sobre o presente medieval.

O Mabinogion mergulha em temas como honra, lealdade, amor, traição e magia. Os contos são notáveis pela sua complexidade narrativa, rica simbologia e a fusão de elementos mágicos com o cotidiano. Eles refletem a estrutura social da época medieval galesa, destacando as dinâmicas de poder entre diferentes reinos e classes sociais, bem como o papel crucial da honra e da lealdade.

Os experimentos iniciais com a prosa narrativa podem ser encontrados nas páginas de Culhwch ac Olwen, representando tanto uma paródia quanto um deleite dos excessos ingênuos da cultura narrativa oral da qual essa literatura estava emergindo. Até o final do século XII, a prosa narrativa em galês médio estava em sua segunda ou terceira geração, e (juntamente com material poético e triádico) fazia parte de uma tradição literária em expansão e autorreferencial. Obras como Llud e Llefelys e os Quatro Ramos do Mabinogi pertencem a esse período.

A autoconfiança literária vernácula, bem como a influência estrangeira, são responsáveis pelo esplendor dourado das obras do século XIII, como os Três Romances e o Sonho de Macsen Wledig. A conclusão dessa tradição é marcada pelo Sonho de Rhonabwy, onde a autoconsciência literária veio completar um ciclo e finalmente voltou-se para si mesma – antecipando a eliminação do espírito medieval que ocorreu em toda a Europa nos séculos seguintes.

Longe de ser ‘uma ruína da antiguidade’ – como Matthew Arnold mal interpretou os Mabinogioni – esses textos são melhor compreendidos como partes constituintes de uma complexa e contínua conversa literária. Dentro dessa tradição em desenvolvimento, cada nome, motivo e incidente reiterado teriam feito parte de uma constelação cumulativa de significados.

Para entender essa cultura intertextual, precisamos absorver algo do desenvolvimento histórico mais amplo da prosa literária medieval galesa: desde a marginalia lacônica da Igreja Britânica Primitiva; ao entrelaçamento narrativo dos Quatro Ramos; à fantasia florida dos Romances do século XIII.

Influência Cultural

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Os contos do Mabinogion tiveram um impacto profundo na literatura subsequente, influenciando não apenas a literatura galesa, mas também autores de outras tradições, como J.R.R. Tolkien, que se inspirou nos mitos celtas para sua própria obra. O Mabinogion também tem sido um recurso valioso para historiadores, linguistas e antropólogos que estudam as culturas e línguas celtas.

Os dois séculos e meio durante os quais os textos do Mabinogion estavam sendo compostos representam um limiar de transição crítica na história e literatura galesas. Aqui, neste pouco conhecido canto das Idades Médias Europeias, encontramos os mundos de pensamento da antiguidade oral e da proto-modernidade letrada frente a frente em proximidade curiosa. A transição entre os dois pode ser rastreada como um processo literário – que podemos observar desdobrando-se nas próprias páginas do Mabinogion.

 

Traduções e Legado

A primeira tradução completa do Mabinogion para o inglês foi realizada por Lady Charlotte Guest, e foi publicada entre 1838 e 1845. Esta tradução ajudou a trazer as histórias para um público mais amplo e foi fundamental para o renascimento do interesse pela cultura e história galesas durante o século XIX. Hoje, o Mabinogion é reconhecido mundialmente como uma obra fundamental da literatura medieval e um testamento da rica herança cultural do País de Gales.

Lady Charlotte Guest é uma figura central na história da literatura galesa e da tradução literária. Nascida em 1812, ela se destacou não apenas como uma tradutora talentosa, mas também como uma das primeiras a tornar acessível ao público de língua inglesa o Mabinogion.

Lady Charlotte começou a traduzir o Mabinogion em um período em que o interesse pelo patrimônio celta estava crescendo no Reino Unido. Com acesso direto aos manuscritos medievais, como o Livro Vermelho de Hergest, ela realizou um trabalho meticuloso de tradução e comentário, publicando a primeira versão completa do Mabinogion em inglês entre 1838 e 1845. Sua tradução não foi apenas um marco por sua acessibilidade, mas também por sua fidelidade e profundidade erudita, acompanhada de notas extensas que forneciam contextos históricos e culturais essenciais.

A contribuição de Lady Charlotte transcendeu a tradução; ela ajudou a estabelecer o Mabinogion como um texto fundamental para o estudo da literatura medieval e da cultura celta. Seu trabalho destacou-se pela qualidade literária e pelo rigor acadêmico, facilitando a pesquisa e o estudo posterior por acadêmicos e entusiastas. Por meio de suas traduções, Lady Charlotte possibilitou que gerações de leitores e estudiosos fora do País de Gales descobrissem a rica tapeçaria das tradições narrativas galesas.

Assim, a Scriptoriando desempenhou um papel fundamental ao introduzir o Mabinogion no Brasil, seguindo os passos de Lady Charlotte Guest. Ao publicar a obra completa com todas as notas de estudo originais da tradutora, a Scriptoriando não só preservou a integridade do texto, mas também proporcionou aos leitores brasileiros um entendimento mais profundo dos aspectos históricos e culturais que envolvem o Mabinogion.

Esta edição tornou-se uma ferramenta valiosa para estudiosos e entusiastas da literatura e da mitologia, ampliando o acesso e a compreensão das tradições celtas na América do Sul.

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Conclusão

Lady Charlotte Guest deixou um legado duradouro não só como tradutora, mas como uma das principais divulgadoras da literatura galesa. A iniciativa da editora Scriptoriando de trazer sua obra completa para o Brasil com anotações detalhadas garante que o valor cultural e literário do Mabinogion seja apreciado por um público ainda mais amplo.

Essa publicação não só honra a memória e o trabalho de Lady Charlotte, mas também serve como um importante ponto de conexão cultural entre o País de Gales e o Brasil, fomentando um interesse contínuo pelas ricas tradições literárias do mundo celta.

O Mabinogion não é apenas uma coleção de contos antigos; é um portal para um mundo vibrante de heróis, deuses e monstros, entrelaçado com a realidade histórica do País de Gales medieval. Para os galeses, ele continua a ser um símbolo de identidade nacional e um pilar da literatura galesa. Para o mundo, ele oferece uma perspectiva rara e fascinante sobre o pensamento e a imaginação celtas, perpetuando seu apelo através dos séculos.

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